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A Pirambóia


Foto de uma Pirambóia Lepidosiren paradoxa, tirada por Vanessa Gama via Museu da Amazônia.


Nos grandes rios da Amazônia, do Paraguai e em regiões pantanosas, vive uma espécie de peixe que é capaz de respirar dentro de “buracos no subsolo” que nós chamamos de galerias. Essas galerias são feitas pela própria pirambóia em períodos de seca/baixa dos rios, assim ela fica protegida de predadores e o corpo permanece hidratado até o período das cheias.


Mas o que seria essa espécie? Uma mistura de peixe e réptil?

O Lepidosiren paradoxa pertence a um grupo de peixes denominado Dipnoi que possuem pulmões, isso mesmo, apesar desse órgão não ser igual aos de animais terrestres esses peixes são capazes de respirar fora d’água. No Brasil temos um único representante desse grupo. Conhecido popularmente como Pirambóia, que na língua tupi significa peixe-cobra, recebe também outros nomes comuns como caramuru, carapanã, piracuru-bóia ou traíra-boia.


A pirambóia é caracterizada como peixe pulmonado verdadeiro pois apresenta pulmão especializado no qual auxilia na captura do oxigênio, favorecendo a sua respiração quando submetidos a condições de clima extremamente quente e seco. Nas épocas de seca, esses animais constroem galerias de até 50 cm de profundidade na lama ainda úmida, sendo que a entrada dessas galerias é fechada com argila, além de permitirem que haja de 2 a 3 orifícios para a entrada de ar. A pele do animal então secreta um muco que é resistente a perda de água, e quando a lama seca por completo, esse muco endurece formando um casulo em volta da pirambóia, onde os orifícios são mantidos para a ventilação da galeria, sendo que esse processo fisiológico é chamado de estivação. A estivação permite que o animal sobreviva nesses ambientes gastando o mínimo de energia, com apenas a quantidade necessária para manter os sinais vitais em funcionamento. O peixe permanece nesse estágio até a próxima estação chuvosa.


Imagem ilustrativa do processo de estivação, de Alexandre Souza/Mundo Estranho via Revista Superinteressante.


Ao reproduzir a estivação em laboratório, os pesquisadores notaram que as pirambóias não ficavam totalmente imóveis com a presença de água sobre a lama, aonde os peixes, ocasionalmente, iam até a superfície para respirar ar. Somente na ausência total de água, é que as pirambóias se enterraram em buracos mais fundos construindo suas galerias e permanecendo imóveis por longos meses ou até mesmo por anos.


Um pouco mais sobre a Pirambóia

Esse animal possui coloração preta ou acinzentada, corpo serpentiforme com escamas, cabeça achatada e nadadeiras lobadas. A coluna vertebral se estende até o final do corpo do animal da qual se emerge um conjunto de músculos que atuam como nadadeiras, essa estrutura permite que o peixe percorra pequenas distâncias em terra seca. São peixes de água doce e são fisiologicamente incapazes de atravessar grandes extensões de água salgada. O hábito alimentar desses indivíduos pode variar a depender do estágio de vida. Quando jovens se alimentam de larvas de insetos e caramujos, quando adultos, comem algas, peixes, anfíbios e invertebrados como caramujos, moluscos e camarões. Em cativeiro aceita quase todo tipo de alimento como filés de peixes e rações de fundo.


Se reproduzem durante a estação chuvosa construindo tocas com o acúmulo de detritos vegetais onde ocorrerá a desova. São ovíparos. Os machos desenvolvem filamentos conhecidos como "guelras pélvicas" em suas nadadeiras pélvicas e exibem cuidado parental, protegendo os ovos e jovens no ninho. As guelras pélvicas são induzidas através do hormônio testosterona. Não apresentam dimorfismo sexual evidente. Quando recém-eclodidos se parecem com girinos, possuem quatro guelras externas que utilizam para respirar nas primeiras sete semanas de vida, após essa fase torna-se estritamente respiradores de ar e suas guelras começam a regredir.


As autoras: Esse texto foi escrito pelas discentes Alana Caroline Ferraz Rocha, Camila Oliveira Pinheiro, Cinthia de O. Esteves Rodrigues, Franciele dos Santos Ribeiro e Viviane Araújo de Souza, como atividade avaliativa para a matéria Zoologia IV.


Confira as referências desse texto:

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