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O Bagre Albino


Foto de Adriano Gambarini via Guia Chapada Diamantina



O Rhamdiopsis krugi, conhecido popularmente como bagre-albino-do-poço-encantado, foi descrito por Bockmann & Castro em 2010 após ser encontrado no Poço Encantado, no município de Itaetê, Chapada Diamantina, Bahia. Sua descoberta se deu pelo esforço do guia turístico Luiz Krug, por isso o nome, que ao saber da existência do novo bagre, ajudou na sua divulgação e conservação.


O R. krugi apresenta um corpo ligeiramente alongado, com tecido gorduroso que pode ser observado ao longo do corpo a partir de corpúsculos pequenos e circulares. Sua cabeça é revestida por uma pele quase transparente, não possui olhos, apresenta boca subterminal, de 4 a 6 fileiras de pequenos dentes viliformes no pré-maxilar e no dentário. Possui três barbilhões curtos e achatados dorso-ventralmente, de 38 a 39 vértebras e uma linha lateral curtíssima, com 5 a 15 poros.

Outras características morfológicas apresentadas pelo bagre-cego são um pouco incomuns, segundo Bockamn & Castro (2010), consistem em “lobos da nadadeira caudal dorsal e ventral tipicamente com seis raios ramificados cada [...] barbatana anal com 14-17 raios”, além disso, a espécie apresenta vários atributos do sistema esquelético que se diferenciam dos outros gêneros que compõem a família. O R. krugi, ou bagre-albino-do-poço-encantado, é também conhecido por este nome devido à sua coloração que é desprovida de pigmentação, quando vivo, exibem uma cor rosado claro, mas ao ser capturado e conservado, adquire uma coloração cinza ou amarelo claro.


Segundo o estudo realizado por Bockmann e Castro (2010), o R. krugi, assim como todos os bagres presentes nas cavernas brasileiras, apresenta um comportamento tipicamente solitário. No lago da caverna Poço Encantado, o R. Krugi foi observado nadando em até cerca de 35 metros de profundidade, mas geralmente se encontra em meio à superfície. Possuem ainda uma preferência por substratos, ficando concentrados nas paredes rochosas. Outra característica comportamental é que este peixe não apresenta reações fóbicas, não sendo fotofóbico e reagindo à maioria dos estímulos físicos, como os dos movimentos da água e da iluminação repentina, e executa um comportamento exploratório quando estimulado. Essa característica é possível devido à baixa predação. Essa espécie também apresenta suas interações de maneira simples e menos intensa. Os R. krugi reduziram seus hábitos em estado de criptobiose e aumentaram a sua atividade na região de “meia água”, explorando então a coluna d’água e a superfície, o que aparentemente é “um traço de comportamento juvenil retido pelos adultos”. A velocidade média de natação é de aproximadamente 0,03 m/s quando em atividade normal, e 0,15 m/s quando colocado em situações de estresse. A dieta de R. Krugi, por conta do ambiente de caverna em que vive, é considerada generalista, oportunista e pobre. Isso se dá por conta de seu conteúdo estomacal, que é composto principalmente por larvas de Diptera e microcrustáceos, o que permite caracterizá-lo como carnívoro. A ocupação da parte inferior da água, comportamento não-criptobiótico, a não-fotofobia e a redução de ritmos circadianos são consideradas autapomorfias de R . Krugi.


De acordo com Bockmann e Castro (2010), o R. Krugi tem um pico reprodutivo no final do período chuvoso. A proporção de indivíduos maduros de R. krugi entre março e setembro foi baixa, o que indica reprodução infrequente. Além disso, todas as fêmeas maduras foram encontradas no final da estação chuvosa em março. A baixa proporção de peixes maduros indica que nem todos os indivíduos de R. Krugi se reproduzem a cada ano, o que é esperado, tendo em vista a escassez de alimentos que prevalece no habitat subterrâneo.


Das 12 localizações que se conhece dessa espécie, nenhuma apresenta algum tipo de pigmentação, até mesmo a pigmentação escura que é a mais comum nos bagres, ou olhos muito visíveis. A maioria da família Heptapteridae vive em habitat com velocidade de águas médias a rápidas, porém o R. krugi prefere habitats de vida lêntico, dispondo de águas mais “paradas”. Uma outra curiosidade desse animal é que ele possui um pseudotímpano na sua região anterior do corpo, que amplia sua percepção sensorial.


O Poço Encantado possui 98 metros de comprimento e 49 metros de largura, sendo caracterizado pela água cristalina e de aparência azul. Enquanto a transparência se dá pela presença de carbonato de cálcio, que é capaz de filtrar a água, a coloração azul se dá pelo processo de reflexão dos raios solares. Esses dois aspectos formam uma bela vista para contemplação, mas, ao contrário do Poço Azul, localizado em Nova Redenção, não é permitido entrar na água devido ao risco de perturbação e contaminação humana.

Durante os meses de fevereiro e outubro, há uma incidência solar direta que ilumina o Poço Encantado permitindo a contemplação do ambiente.

Foto de Branco Pires via Guia Chapada Diamantina


Confira as referências desse texto:

Bockmann FA, Castro RMC 2010. O bagre cego das cavernas da Chapada Diamantina, Bahia, Brasil (Siluriformes: Heptapteridae): descrição, anatomia, relações filogenéticas, história natural e biogeografia. Ictiologia Neotropical 8: 673-706.


Maria Elina Bichuette, Bianca Rantin, Erika Hingst-Zaher, Eleonora Trajano, A morfometria geométrica esclarece a evolução do bagre subterrâneo Rhamdiopsis krugi (Teleostei: Siluriformes: Heptapteridae) no leste do Brasil, Biological Journal of the Linnean Society, Volume 114, Edição 1 , Janeiro de 2015, páginas 136–151, https://doi.org/10.1111/bij.12405


Rhamdiopsis krugi Bockmann & Castro, 2010. Fish Base. Disponível em: <https://www.fishbase.se/Summary/SpeciesSummary.php?id=65888&lang=portuguese_po> Acesso em 13 de novembro de 2020.


POÇO AZUL E POÇO ENCANTADO. Guia Chapada Diamantina. Disponível em: <http://www.guiachapadadiamantina.com.br/pocos-azul-e-encantado/> Acesso em 13 de novembro de 2020.


Autoria: Daniel Cunegundes, Kerenn Santos, Larissa Rocha, Rebeca Almeida e Yndira Soares.

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