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Dormindo nos ares!

Você sabia que o sono tem outras funções além de recuperar e conservar nossas energias? Ele é importante para a memória, aprendizado, regulação emocional e remoção de toxinas celulares, por exemplo. Nós humanos passamos cerca de um terço de nossas vidas dormindo, necessitando em média de 7 a 8 horas de sono, enquanto as aves precisam em média de 12 horas. (Nunes e Klaym, 2013).

O sistema nervoso central é ativo durante o sono e é quem proporciona essas atividades cerebrais. Durante o período de vigília estimula a liberação de hormônios como a noradrenalina e a seratonina; esta que é importante na percepção do ambiente e na resposta aos estímulos ambientais, garantindo que o cérebro esteja em estado de alerta. (Nunes e Klaym 2013).

Muitas aves passam dias e dias voando até chegarem ao seu destino, as Fragatas são exemplos disso. Algumas aves do gênero Fregata como a espécie Fregata minor, também chamada de Tesourão-grande, podem voar sobre o oceano por até 10 dias sem parar, isso mesmo, 10 dias! (Rattenborg et al., 2016) Durante esse período, a alimentação não é o maior problema, tendo em vista que durante o voo podem predar peixes que se encontram na superfície do oceano, e em outras ocasiões podem também ser predadores de outros animais, como tartarugas recém nascidas (Rattenborg. et al., 2016).

Fragata no voo. Foto: via DW.com, por Brigitte Osterath Se por um lado a falta de comida não é um problema, por outro o sono pode ser. Ele é fundamental para que os organismos funcionem corretamente, tendo em vista que está diretamente relacionado a fatores cognitivos, memória, balanço hormonal e também constituição corporal (Bastos, Borges e Damasceno, 2015).

Considerando isso, você pode se perguntar, como as Fragatas passam tanto tempo sem dormir? A resposta é simples, elas não passam. Esses animais, assim como outras aves conseguem fazer com que apenas um dos hemisférios cerebrais descanse, enquanto o outro continua ativo. Tal fenômeno é chamado de sono uni-hemisférico de onda lenta ou USWS (unihemispheric slow wave sleep), no momento do sono que ocorre durante o voo, as aves mantém o olho ligado ao hemisfério acordado, de modo que este fica aberto servindo como um sinalizador para possíveis ameaças. O USWS também pode ser observado em outros animais como, por exemplo, os golfinhos. (Rattenborg. et al., 2016).

Todavia, embora no momento do voo o USWS seja mais frequente, as fragatas também podem dormir com os dois hemisférios do cérebro. Contudo, dormir completamente no momento do voo poderia causar a colisão de vários pássaros, o que não seria positivo. Concordam? Portanto, este segundo tipo de sono é mais comum quando esses animais encontram-se no solo (Rattenborg. et al., 2016).

Fragata real. Foto: via meusanimais.com.br Atenção, não se engane em pensar que as Fragatas dormem o tempo inteiro enquanto estão voando, na verdade, elas dormem cerca de 0,69h/dia, isso corresponde a 7,4% do total de horas que essas aves dormem enquanto estão no solo. Isso pode sugerir que durante o voo esses animais estão sujeitos a pressões ecológicas de atenção que não podem ser supridas apenas pelo USWS (Rattenborg. et al., 2016).

Esse mecanismo além de ser antipredatório, atua na manutenção da termorregulação, na regulação da homeostasia do sono, na restauração do metabolismo e na plasticidade cerebral. Foi relatado que em pássaros migratórios, o estado de vigilância vai depender do tamanho do grupo e da posição encontrada no grupo, ou seja, os pássaros localizados na borda permaneceram mais tempo em estado de vigilância do que aqueles que se encontram no centro (Mascetti, 2016).

Entretanto, mesmo dormindo durante o voo é necessário que após essa atividade, as aves recuperem o sono “perdido”, principalmente para as aves que realizam voos prolongados, pois estas acabam ativando o cérebro por mais tempo (Ranttenbog, 2006).

Como já discutido, uma das funções do sono é permitir a consolidação da memória tanto em mamíferos como em espécies não-mamíferas (Vorster; Born, 2015). Dessa forma, o descanso pós-voo é imprescindível para conservar e organizar as memórias obtidas no voo anterior (Ranttenbog, 2006).

Moradores do Ártico, maçaricos-de-colete não dormem para copular. Foto: via DW.com por Brigitte Osterath É incrível observar o quão extraordinária é a natureza! Ao passar dos milhões e milhões de anos de evolução, mecanismos como esse, foram desenvolvidos e aperfeiçoados pelas mais variadas espécies, colaborando para que os mais aptos conquistassem os ambientes aéreos, terrestres ou marítimos. A diversidade na natureza, com suas irregularidades, assimetrias, formas e tamanhos, nos mostra que a complexidade de cada indivíduo, pode estar nos mais simples ou nos mais notáveis detalhes, surpreendendo, constantemente, em cada um dos seus organismos. A natureza é ao mesmo tempo simples, complexa, notável, e extraordinária.



REFERÊNCIAS


BASTOS, K. C. O. B.; BORGES N. C.; DAMASCENO, D. A. Distúrbios do sono: Narcolepsia e distúrbio comportamental do sono REM nos animais. Enciclopédia Biosfera. Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 1015. 2015.


MASCETTI, G. G. Unihemispheric sleep and asymmetrical sleep: behavioral, neurophysiological, and functional perspectives. Nature and Science of Sleep v. 8, p. 221-38, 2016.


MUKHERJEE, S.; PATEL, S. R.; KALES, S. N.; AYAS, N. T.; STROHL, K. P.; GOZAL, D. & MALHOTRA, A. (2015). An Official American Thoracic Society Statement: The Importance of Healthy Sleep. Recommendations and Future Priorities. American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, v.191 n.12, p.1450–1458. 2015.


NUNES, C. M.; KLAYM, R. F. Sono, Aprendizagem e Tecnologia: uma abordagem sobre a influência do sono nas atividades educacionais. In: XI Congresso Nacional de Educação - EDUCERE., 2013, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba. 2013. RATTENBORG N. C. Do birds sleep in flight? Nature. v.93, p.413-425, 2006.


RATTENBORG, N., C.; VOIRIN, B.; CRUZ, S., M.; TISDALE, R.; DELL’OMO, G.; LIPP, H. P.; WIKELSKI, M. & VYSSOTSKI A. L. Evidence that birds sleep in mid-flight. Nature Communications v.7, p 12468 DOI: 10.103. 2016.


VORSTER, A. P.; BORN, J. Sono e memória em mamíferos, aves e invertebrados. Neurociência e Biobehavioral avaliações. v.50, p.113-119, 2015.



UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA

DOCENTE: FLÁVIA BORGES

AUTORES: DANIELA ROSA DOS SANTOS, FLAVIA CASTELIANO SOUZA, JERLANE N. MOURA, LAIS SILVA DE CASTRO, MATEUS DO C. ANDRADE E RICHARDSON R. SANTOS



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